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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A Fé e suas Possibilidades

"Alegoria da Fé", de Carmona. O véu simboliza a impossibilidade de conhecer directamente as evidências.
     O "tempo" passa, o mundo gira e ficamos velhos. Gente morre a todo instante, gente nasce a todo instante e não temos poder algum sobre tudo isso?

     Os avanços das parafernalhas tecnológicas possibilitam aos humanos uma série de façanhas as quais eram "impossíveis" há uns 50 anos. Porém, ainda existem algumas coisas que nossa vil espécie não consegue controlar. Uma delas é o Tempo.

     Usando-se de uma ideia lamarckista, mas "atualizada", pode-se dizer que os seres tendem a evoluir de acordo com suas necessidades. Alguém procura melhorar em algo se não há necessidade? Ora, o ser humano está em constante evolução psíquica, portanto é sujeiro a mudanças, como na parte da cultura, que envolve as crenças nas verdades "incontestáveis" e em outras não tão incontestáveis assim.

     Em setembro de 2011, um grupo de cientistas enviaram um feixe de neutrinos de uma laboratório na Suíça para um outro na Itália. Diz-se que essa distância seria percorrida por um feixe de luz com sua velocidade c, enquanto os neutrinos o conseguiram fazer mais rapidamente, chegando 60 nanossegundos a frente da luz. Algo contestável, mas que põe em xeque toda a física como a conhecemos, apesar de ser um evento "cíclico".

     "Cíclico", sim! Pois, constantemente, vê-se teorias derrubadas, ou reforçadas! Essa teoria dos neutrinos pode derrubar a Relatividade, assim como essa derrubou a teoria de Newton. Newton dezia que a velocidade é relativa, enquanto o tempo e o espaço são absolutos. Einstein diazia que a velociade é absoluta, enquanto o tempo e o espaço são relativos. Já a possibilidade de uma teoria "neutriniana" sugere velocidade, tempo e espaço relativos. Quem sabe o que é certo, atire a primeira pedra!

     O certo é que, de acordo com a própria Relatividade, se algo conseguisse ultrapassar a velocidade da luz, a viagem no tempo poderia deixar de ser um sonho e se tornar realidade. Certo. Muitos "sonhos" se tornaram realidade nos últimos dois séculos. Mas não haveria um limite para sonhar? Não haveria um limite para distinguir a ficção daquilo que é realmente provável?

     Às vezes tornam-se até ridículos os modos dos céticos. Ridículos e hipócritas. Como questionar a criação do mundo por deuses, se se acredita em uma possibilidade de viagem no tempo? Viajar no tempo é tão "impossível", "utópico" e "improvável" quanto a criação do mundo por Deus em sete dias. Tudo é questão de crença, de FÉ! E a palavra "fé" não está ligada unicamente ligada à religião. Fé vem do latim,  fides, que significa "fidelidade". Fé é a firme opinião de que algo é verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que depositamos nesta idéia ou fonte de transmissão. Portanto acredita-se na criação pelo Big-bang por mera fé, assim como se acredita na criação por seres transcendentais.

     Pode-se afirmar, reafirmar e jurar que algo é vedade, mas se for crença de fé, perde credibilidade em algum ponto, pois sempre aparecerá alguém para desmentir e duvidar. Por isso métodos científicos são tão bem aceitos na sociedade contemporânea. Eles oferecem o palpável. A fé não. Mesmo assim, ela não falhou. Ela só deixou de penetrar campos que não lhe são "férteis". Se há possibilidade de demonstração, a fé pode acabar ali. Se não, ela é a principal atuante. Simples assim. Agora a hipocrisia de alguns cientistas que se dizem "não movidos pela fé" é monstruosa. Big-bang é pura fé! A origem da vida é pura fé! A nossa existência é pura fé! Deuses são puramente FÉ!

     E, na verdade, nunca saber-se-á a "verdade absoluta". Ao invés de se discutir a relatividade da velocidade, do tempo, e do espaço, por que não discutir a relatividade das verdades? Ou até destruir as ditas "verdades absolutas"?

     Verdades podem ser sonhos, pretensões... Aliás, tudo que vem do homem é bem pretendido por ele. Tudo serve para promover ou rebaixar algo. Tudo existiu, existe e existirá para revolucionar sua contemporaneidade, dentro de suas possibilidades, derrubando ou construindo velhos ou novos saberes.

     Tenham as suas crenças. Acreditem no que lhes for conveniente. Enganem-se, se preciso for. Se você mal consegue se convencer, provavelmente não convencerá as pessoas ao seu redor. Convencer-se de algo é difícil, por isso que crenças são quase que irrefutáveis. O certo é que não se deve deixar de acreditar em algo por um simples dizer alheio. Você sabe o quanto suas crenças lhe fazem, bem ou mal. Basta regulá-las, de acordo com a situação e momento.

domingo, 20 de novembro de 2011

O Poema Rejeitado

Varão diz:
-Perdido, nas profundezas deste espelho
Vejo a vida passar como um filme antigo,
Embaçado por um líquido vermelho
E a ser estrelado por um velho amigo.

-Invoco, então, as almas de entes perdidos,
Que o mau presente não me deixa ver mais.
E o passado de sentimentos feridos
Dá-me, agora, bela imagem de meus pais.

-Preso na efemeridade do terreno
Sinto a vida como um enorme presídio.
D’onde alguns fogem pelo vinho-veneno
Sem temer a vontade d’um suicídio.

-Oh, Efêmeras Lagartas Corajosas,
Que se enclausuram para poder viver,
Qual o porquê de se ter asas tão mimosas
Já que o Senhor Tempo trata de as comer?

-Vamos, amigo Espelho! Mostre-me mais!
Mostre-me o que mais de mim ficou pra trás!

-Mostre-me, agora, os meus sonhos de criança,
Para eu poder sair deste espelho em paz.
Mostre-me o quanto da vida é esperança
E quanta falta não tê-la em mim me faz!"

Trovador diz:
E pela noite, ao sair p'ra boemia,
Leva consigo su'alma burocrata.
Espalhando confusão e epidemias,
Ilustrado ao belo som de uma sonata.

Uma sonata tocada bem feliz.
Tão feliz que a Terra inteira, toda, brilha!
Uma sonata que com escalas diz:
"Uma galante canção para a Matilha!".

E já ao deixar o espelho de fundo eterno
E ter visto a vida como um filme antigo,
Vai deitar-se feliz, com prazer interno,
O vil varão por ter visto o velho amigo...