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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Conclusões de um Monólogo de 2 Anos e 3 Meses

         Bem, poderíamos começar o presente texto anunciando um novo método para não sentirmo-nos tão infelizes. Mas como, muito provavelmente, um método desses nunca existirá, sinto-me aliviado por não carregar a responsabilidade de escrever tal texto nem culpado por não escrevê-lo. Falemos de sentimentos. Por mais batido e clichê que esse assunto possa parecer, ele ainda rende muitas histórias, assim como rendeu e renderá até o fim da nossa existência, primatas sentimentais.

Talvez alguém que se atreva a ler o início deste texto pense: “Mas que besteira! Lá vai mais um falar de coisas que todo mundo sente, coisas que todo mundo já sabe o que é, coisas que não têm importância! Mais um querendo ser o dono da verdade, mostrando como as pessoas agem, como se ele não agisse de tal forma, porque se acha superior e inafetável por aquilo que o próprio descreve!”.
Bom seria se esse tipo de gente existisse: alguém totalmente inafetável pelas ações normais, alguém totalmente imparcial. Mas como esse “alguém” não existe, sinto-me obrigado, hoje, a falar da fonte mais segura de certos sentimentos que conheço [ou julgo conhecer, pelo menos]: Eu.
Retirado de: http://psicologiaviva.wordpress.com/
Começo admitindo um dos meus maiores defeitos [ou virtude?]: apego-me ligeiramente fácil a algumas pessoas. Ou simplesmente passo algumas semanas me dando bem com alguém e depois meio que “tudo perde a graça”. Talvez isso seja, em partes, culpa das ferramentas tecnológicas das quais usufruímos, de onde conhecemos pessoas com as quais começamos a falar, fazer piadas e contar segredos. Depois conhecemos mais gente, então os mais antigos viram apenas arquivo. Talvez seja, em outras partes, culpa do meu próprio comportamento. O certo é que isso já me aconteceu algumas vezes e, sinceramente, não gosto de mim quando passo por isso. A parte boa dessa história é que de quem não se perde a graça acabo virando amigo de verdade. Um amigo a mais que seja! Lucro!
Amigos são realmente importantes na formação das nossas personalidades, e isso deve ser uma das coisas que todo mundo já sabe. Porém, algo que engana muita gente é que “só amigos bastam”. Quando falo amigos, incluo a família, já que penso que se não tivessem “inventado” a instituição “família” todos seriam amigos do mesmo jeito [na verdade, mais amigos. Amigos de verdade, sem a ideia que mãe é superior ao filho ou que devemos respeitar nossos irmãos porque eles vieram do mesmo útero que a gente. Amigos por real consideração].
Como só amigos não bastam, é chegado um momento na vida de uma pessoa que ela quer algo a mais. Algo que os amigos não conseguem dar [“não conseguem” não implica deficiência, porque o que eles oferecem é diferente. Seu papel é outro]. Então o humano percebe que precisa de amor. Não amor parental, fraternal, animal, mas sim um amor que, até então, só se ouviu falar. Um amor que nem se sabe de sua veracidade nem de sua possível intensidade. Bem, nosso problema, em geral, é que não sabemos quando estamos prontos para isso, se estamos certos disso ou se isso realmente existe. O certo é que temos medo. Ah, o medo sempre é certo! Se existe um “sentimento” que descrevemos quase que perfeitamente, ele se chama medo. Não é à toa que ele nos acompanhou durante toda nossa evolução, e ainda permanece.
Então se conseguimos descrever o medo “quase que perfeitamente”, porque ele é um “sentimento natural”, por que não sabemos ao certo quando estamos amando? Não seria o amor, também, um sentimento natural? Desde quando o “amor” acompanha nossa espécie? Bom, isso seria objeto de um estudo mais aprofundado, o que não tenho, agora, a mínima paciência ou vontade para começar. Que isso se torne um plano concretizado, se possível, no futuro, não muito distante, de preferência.
Ouvimos pessoas falando sobre sentimentos diariamente. O problema é que “será que elas estão sentido isso mesmo”? Não estariam elas descrevendo erroneamente o que sentem? O comportamento verbal tem dessas peças a pregar. Se tu nunca sentiste vergonha de verdade, então ouves alguém dizendo que está com vergonha, ao passo que descreve tal sentimento como horrível, constrangedor e paralisante, quando te sentires horrorizado, constrangido e paralisado estará também condicionado a dizer que estás com vergonha. Mas será que vergonha é isso tudo mesmo?
A má descrição do “sentimentos” pode nos atrapalhar em uma provável autoavaliação: estou com medo ou estou envergonhado? Estou odiando ou estou chateado? Estou simplesmente gostando de alguém ou estou amando esse alguém?
Tirinha do cartunista Orlandeli.
Venho percebendo [desculpem-me por usar minhas experiências de observação de terceiros] que algumas pessoas se escondem dentro de uma dura carapaça, pois são, na verdade, indefesas lesmas. Sua carapaça não faz parte de si, mas se tornou quase que essencial para se manter uma imagem zelada. Preparada. Usurpada. Falseada.
Negar-se para se manter no meio? Porque não choras na frente de todo mundo? Porque não dizes quão ridículo é estar no meio? Pois sei que não gostas de estar lá, na verdade... Tu querias apenas poder chorar quieta, fazendo todo mundo entender que estás sofrendo de verdade! Mas o sentido e os sentimentos são falseados. Olhar-te-ão e dirão: “Chora mas não sabe bem o porquê! Isso é frescura”. Talvez encontramos a razão para tantos sentimentos usurpados ou simplesmente negados.
Admito, até certo ponto [e talvez eu mesmo esteja negando algo supracitado], que ando passando por uma situação confusa.
Quando junto aquele meu defeito/aquela minha virtude com uma situação prática, não sei bem o que sinto. Para ser mais preciso, penso que sinto algo por alguém [A: Talvez seja só atração... – B: Talvez não seja só atração!]. De certo modo, sinto-me apegado a esse alguém. Esse alguém me faz algo, que talvez ele nem perceba que me faz mal. Então sinto algo que, novamente, não consigo explicar. Fico confuso. Então escrevo um texto tentando entender porque sou assim, ao passo que tento explicar a mim mesmo algumas possíveis razões para esse comportamento. Odiável, diga-se de passagem.
Espero que isso aconteça com mais gente, caso contrário precisarei de algumas terapias. Longas terapias, aliás...
Penso que perdi o fio da meada. Olho para cima, esperando alguma resposta. E é óbvio que a resposta não vem! Se viesse o texto perderia a graça e o sentido! O apelo. O desespero. O certo é que o maldito fio tece boas histórias para nossas vidas. Histórias que se perpetuam, aliás, pois o fio nunca acaba, e acaba que ele serve para mais gente como a gente.
É. No fundo nós, primatas autointitulados inteligentes, somos tão iguais quanto todos da nossa espécie. E sabemos disso. Mas temos um forte sentimento, desejo de singularidade, o qual nos faz pensar que ser igual a outros como a gente é ruim. E talvez seja. Quem sabe? Mas quanto mais diferentes queremos ser, mais parecidos somos uns com os outros, o que nos torna membros de uma sociedade doentia. E penso que a tal singularidade de que falo nos faz, de certo modo, diferentes, mas tão diferentes que às vezes nos confundimos, saudavelmente, pois ter quem nos entenda é importante.
E é aqui que aparece aquela pessoa que não te dará amor parental, fraternal ou animal. Ela será diferente de ti, mas tentará te compreender como se tentasse o auto entendimento. Mas também é aqui que aparecem as dúvidas, as certezas não confirmadas e, muito provavelmente, algo parecido com o medo de tentar.
O engraçado é que mesmo depois de tentarmos e acharmos que deu certo, as lesmas nos aparecem com suas duras carapaças, novamente!
Volto a falar de comportamentos.
Sou uma prova do que falo, mas também falo que vi isso em outras pessoas. E realmente me impressionei.
Tu tens uma primeira experiência emotiva com alguém. Não necessariamente relações sexuais. Um relacionamento, inicialmente, apaixonado, apaixonante [lembrando que eu mesmo posso não saber bem o que sinto, mas tenho uma ideia. A: Talvez seja só atração... – B: Talvez não seja só atração!]. Então tu tens boas experiências nesse relacionamento. Porém tu acabas com ele. Pouco tempo depois, tu inicias outro relacionamento com um outro alguém. Prestaste atenção que é difícil não agir de forma que lembre o relacionamento passado? Muitas vezes os “sentimentos” são parecidos, a tua vontade do outro é parecida, até os erros são parecidos. E mesmo que tu passes dois anos e três meses sem ninguém, toda a filosofia, toda a psicologia, todo teu pensamento a respeito de relacionamentos, criado durante esse tempo, não vale nada, em um primeiro instante. Tu estarás condicionado a agir de uma maneira que lembre respostas emitidas a contingências passadas parecidas com as que tu estás vivendo, visando, meio que inconscientemente, o melhor resultado possível, que é algo parecido com o que tu já viveste, pois é um resultado conhecido e se, no mínimo, for parecido com o que tu já viveste, tendo um resultado que te favoreça na situação, sentir-te-á mais seguro para agir daquela forma quantas vezes for necessário. Conveniente.
http://www.luzes.org/conteudo.php?ar=3&a=121&Cod=136
Como já disse, isso também acontece inicialmente. Depois vemos que certos comportamentos entram em extinção [muito provavelmente, não todos], já que em relacionamentos diferentes temos contingências diferentes. E, não necessariamente, no tal “primeiro instante”, se agirá como se agiu no passado, tendo como base do comportamento contingências parecidas e consequências reforçadoras. A cognição criativa de cada um cuidará da emissão de novas respostas para novas contingências ou, quem sabe, mesmo para contingências que lembrem as passadas. Ainda assim, acredito que seja mais fácil um comportamento passado voltar a ser emitido em uma situação S presente, desde que ela te lembre estados internos, subprodutos de comportamentos, “sentimentos” vividos no passado, e desde que o emissor considere tais subprodutos “bons para ele”, reforçadores. Como quando uma das lesmas com carapaças tem a carapaça quebrada: ela se torna um animal diferente. E vemos isso em seus olhos! Provavelmente outras pessoas danificaram sua carapaça no passado, logo penso que a lesma não agiu tão diferentemente de quando estive com ela. Assim, a meu ver, relacionamentos que podem oferecer um amor diferente daquele que os amigos oferecem sempre começam de um modo parecido. Volto a dizer que falo de experiências minhas. Mas também já bastam tentativas comportamentais de explicação!
O certo é que cada um de nós deve tentar quebrar o máximo de carapaças, tantas quanto forem possíveis! Paradoxalmente, esse recado também se estende às lesmas. Sim, elas têm poder, ainda que encarapaçadas, pois elas podem simplesmente decidir deixar suas carapaças de lado, um dia! Quão adoráveis podem ser as lesmas, esses bichinhos úmidos e nojentos, sem suas carapaças?
Chore! E faça com que os outros chorem! Ria! E faça com que os outros riam! Sofra! E faça com que os outros percebam a necessidade do sofrimento, para que não tenham medo de errar e de sofrer! E mesmo que te digam: “Isso não vai prestar”, deves ter a consciência de que aquilo pode não prestar, realmente, e que fazes aquilo por amor à vida! Porque tens vontade de viver e de conhecer o máximo de sensações enquanto estiver vivo, para ter histórias para contar a teus filhos, que serão teus amigos e dever-te-ão respeito não porque tu és pai deles, mas porque eles perceberam que tu mereces respeito!
Assim podemos reconstruir mais um conceito: o de família. Ou acabar com ele de uma vez! E incrementar aquele de amizade! Ao passo que o conceito de amor... bem, esse continuará difícil de conceituarmos, eternamente. Então apenas vivamos o que achamos o que ele simplesmente é! Antes viver um amor que tu criaste que viver amor nenhum.

Gostaria de explicar que a figura do Id, Ego e Super-Ego
tem caráter meramente ilustrativo, já que tendo mais,
no decorrer do texto, a uma abordagem Comportamental.

8 comentários:

  1. tenho que falar que em vários momentos me identifiquei com o texto, texto aliá bem profundo,pelo menos para mim, que tive uma identificação muito grande, e me surpreendi com tal leitura.
    parabéns.

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    1. E meu irmão véi! Até ele leu! Como é que pode?! haha! Valeu, meu fi!

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  2. "Fico confuso. Então escrevo um texto tentando entender porque sou assim, ao passo que tento explicar a mim mesmo algumas possíveis razões para esse comportamento. Odiável, diga-se de passagem."

    "Ao passo que o conceito de amor... bem, esse continuará difícil de conceituarmos, eternamente. Então apenas vivamos o que achamos o que ele simplesmente é! Antes viver um amor que tu criaste que viver amor nenhum."

    Não preciso dizer o quanto gostei do teu texto. Você sabe que enquanto eu lia, comentava com você algumas passagens. Eu posso dizer que esse texto te tira do chão e te leva contra a força da gravidade (pelos menos foi isso que eu senti)para que tu vejas a situação de cima. Não sei, mas uma mistura de auto-identificação com rejeição à realidade. Amei o texto, principalmente o começo que prende de tal foma, que a única saída é terminar de ler o texto. Vejamos o que esse "louco" tem para me dizer. Um abraço. :)

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    1. Haha! P'ra dizer nem tenho muito, Gabi! Fico é sem saber o que falar! Mas agradeço, do fundo do meu miocárdio, por tu o ter lido! Às vezes, penso até qu'esse Blog eu fiz só p'ra tu ler! Sei que não é assim. Mas se fosse, eu continuaria, pode ter certeza! Dois abraços!

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  3. "Espero que isso aconteça com mais gente, caso contrário precisarei de algumas terapias. Longas terapias, aliás..." É bem isso mesmo.
    Suas palavras são significativas e reais, é um belo texto.

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  4. Acabei de ler agorinha esse "monólogo".

    Também me identifiquei com boa parte do que tu escreveste, ou talvez me identificava... Pelo menos a parte da amizade, das carapuças e outras coisitas procuro pensar um pouco como você (só que com argumentos bem menos elaborados, diga-se de passagem - computação tá me deixando bitolado).

    Ainda acredito que o amor pelo sexo oposto, amor sexual, é influenciado muito pelo nosso meio. As propagandas de "ahh como é bom amar! Compre um presente pra sua namorada/esposa/paquera e seja feliz", os filmes clichês, a novela das 8, a música romântica... tudo parece bonito demais, perfeito demais... e ficcional demais também.

    Veja que no passado as coisas nem era tão melosas, e, em matéria de amor, as pessoas eram bem mais objetivas, pelo menos nos tempos dos meus avós (exceto os relacionamentos estilo "mocinho-sinházinha" que eram prometidos... trágico, trágico!).

    Falo disso porque também sofri de amores por muito tempo (isto é, se eu não sofrer ainda hoje), e agora não sai da minha cabeça a ideia de que o amor deve ser construído após o primeiro beijo, e não antes dele.

    Tampouco sei se amor é a palavra certa. Talvez paixonite. É, realmente amor é uma palavra profunda demais pra algo que ainda não foi concretizado.

    Por isso, meu amigo, vamos concretizar esta droga de amor - ops, paixonite! Antes que ela vire uma real preocupação.

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  5. Pessoas são complicadas demais, mas o que fazer senão tentar desvendar alguns de seus sentimentos.Em parte me identifico muito com o que você escreveu.

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