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sábado, 30 de agosto de 2014

A Partida: pt. II

E continuou.
     Porém, as contingências pareciam mudar. Ora o oponente parecia deslocado, ora parecia fraco, ora sequer parecia ameaça. Ora parecia que tinha eu alguma chance. Poderia até descrevê-la como aumentando exponencialmente. E isso era formidável! Ah, era...
     Agora o jogo parecia ser importante, com chance de vitória restabelecida. Isso nunca havia me ocorrido antes. Enfim o prêmio. Que não me era qualquer um. Era a partida mais esperada de minha vida, ainda que quando a planejara não soubesse bem quem seriam os jogadores. Muito menos a honraria. Só tinha certeza de que valeria a pena.
     Minha láurea aproximava-se. Por descuido do oponente ou pelo desejo da coroa me coroar: não sei. Pouco importava, aliás. A interação entre respondentes e operantes estava funcionando em um nível indescritível por mim. Acho até que isso me atrapalhou quando precisei emitir outros operantes. Inclusive em situação de jogo.
     Apesar de tudo, descreveria, afinal, a situação como "favorável". Ouvi até alguém dizer, da plateia, que "tudo tende para ti". E isso foi forte. Era de um peso tão grande que não poderia cometer erro algum. Era como se, havendo falha, a culpa fosse minha. E apenas minha. Mas, na verdade, se não mexesse um dedo ou avançasse sem piedade, a culpa seria minha de qualquer forma. E aqui, senhores, não vos importa saber meu próximo movimento. Porque, qualquer que fosse, havia uma ilusão de controle: eu não estava no comando de nada. Não saberia dizer quem, mas poderia afirmar, quase que axiomaticamente, estava eu certo desde o começo: o galardão não seria meu.
     E a derrota não veio com um mate majestoso, muito menos um simples, o qual eu não esperasse. Nem por contagem de pontos. Sequer por infrações. Mas por tempo.
     E o tempo marcou o carro chefe de minhas derrotas. Aquela que ficará por um bom tempo como a maior partida que nunca ganhei. Ou pior: como a maior partida que quase ganhei. E como perdi? No tempo. Apesar de ter tomado várias peças importantes do jogo oponente, o tempo continuava marcando minha derrota. Na verdade, nem sei se tivesse mais tempo teria ganho. E isso não saberei nunca. Porém, sei, que quase ganhei. E isso dói. É como esperar o Sol nascer e dormir de novo quinze minutos antes. E quando acordar, vê-lo lá no topo. Que tivesse sido destruído no começo! Por que a pena? Se o contexto não é favorável, a seleção deve ser inexorável! Ela não tem pena. Não porque seja ruim. Mas porque ela só age. Ninguém culpa o vento por ventar ou um rio por fluir. São suas funções na natureza.
     Há quem fale do aprendizado nas contingências, de novo: terá valido a pena, no final. Não tenho tanta certeza. Mas, se houver, é lucro. Não estou em condições de recusar um copo d'água. Meio cheio ou meio vazio. Não importa.
     Mesmo aqui, o fim não apontou. Há quem fale de um "futuro", uma invenção quase perfeita para quem quer ser eterno. Não quero mais isso.
     Perdi, afinal. Como previa. Porém, não como esperava.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A Partida

     Sabes como é iniciar um jogo de xadrez, por diversão, já de sobreaviso de que vais perder? Provavelmente, há algo costumeira e popularmente nomeado "motivação" aí: vencer alguém que quase nunca perde [ou alguém de quem antes tu nunca havias vencido] aumenta o valor reforçador de "vencer", aumentando, também a frequência do "jogar", que se resume em "tentar vencer" mais vezes. Pois é. Não vou falar disso. Vou falar de um jogo importante. Em que também não há chance de vitória.
     Há um bom tempo esperava esta partida. Mas como uma partida normal: vou jogar dando meu melhor e esperando o melhor de meu oponente. Nada mais sensato e cordial que esperar um embate à altura. Nada mais normal que preparar-me para o jogo, afinal, não conhecia o adversário. Ainda. E aqui está o perigo: não conhecer o adversário. Porém, isso é algo que foge de nosso controle. Nem sempre conhecemos aqueles com quem nos relacionamos. Nem sempre conhecemos as contingências com as quais interagir-nos-emos. Na maioria das vezes, até, aprendemos a lidar com elas apenas no contato. Regras podem não ser muito claras, visto que as contingências são desconhecidas da maioria, pelo menos inicialmente. E, quando são conhecidas, pessoas lidaram com elas a partir de seu próprio repertório, que não é meu, nem seu, nem de outros. É dela.
     Enfim, encarei o adversário. E deparo-me com a situação de que a partida está ganha. Que pena! Em favor dele. Um minuto de silêncio. Que chega a ser infinito. Quase eterno, com silêncio antes dele e depois dele. Só houve, sempre, silêncio. Algo a mais não existia. Era ilusão. Eram histórias bonitas que te contavam. Eram descrições de uma realidade nada pragmática. Eram descrições de um mundo em que tu não ouvias a história, na verdade. Tu fazias parte dela. Tu eras personagem. E tua história seria contada a outros, que também acreditariam ser aquela sua própria história. E os personagens só aumentam. O conto de fadas só ganha mais vida, parecendo, a cada momento, mais real.
     Então, meu jogo, para o qual achava que havia me preparado tão bem, estava perdido. Ou ganho pelo outro, se preferir assim, caro leitor. O copo nunca está meio vazio para quem tem sede. Já sei que a probabilidade de eu emitir respostas de tentativa serão baixas, assim como as chances de eu vencer. Na verdade, não quero sair de onde estou, agora. Quero ficar aqui, quieto. Desamparo aprendido. Não sei o que fazer, mesmo tendo vontade de que nada disso tivesse acontecido. Ainda assim fico quieto. E não tenho vontade de me expor àquelas contingências de jogo. Se melhorar, quando entrar nelas novamente, vou querer fazer nada, de novo. E isso não seria bom, acho. Esquivar-me-ei. Aqui e ali. Amanhã e depois. E se pudesse mudar o que já aconteceu, mudaria também. E se puder prever, com precisão, o amanhã, farei o possível para que não ocorra lá. Não quero. A fuga foi complicada.
     Continua. Nada tem fim em si.

terça-feira, 8 de julho de 2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Máxima nº 11

Os deuses [como Fors] não erram. Nossas expectativas é que são frustradas. Os incompetentes somos nós.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Apopthosis

Come on man I am already fine
Stupid dance with an old friend of mine
Take the rope, it’s not a perfect suicide

Plant some roses in the black backyard
Take care of them because I’ll be so far
Bring me some when I’m sleeping for long time

Hey, I’m still closer to my vision trained to define
Take a pill, spit it out, make it explode now in my mouth
Stay away, not so far, I wanna you all by my side
Forgive me, I’m so tired, I am a sacred suicide

Through my head, into my head, little mine
Keep the gun far away from myself
I'm not a sacred suicide
Apoptosis

Letra composta, para uso da Die Jokker, por Allef Rocha Marinho. Plágio é CRIME contra a propriedade intelectual.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O último 31

     Feliz ano novo de 365 dias, 12 meses, 2 ou 4 estações [quem sabe, até só uma, de novo], de Eleições em Outubro, Carnaval no primeiro trimestre, Natal em Dezembro, de Aniversário no mesmo dia e de Férias no mesmo período. Feliz ano novo de notícias sobre enchentes no começo do ano e de Copa assistida pela TV, provavelmente torcendo pela Alemanha, depois "simpatizando" com a Seleção Brasileira.
     De promessas: sobre aquele livro que tu não leu, sobre a viagem d'os sonhos, sobre o novo amor, sobre passar no vestibular, sobre arrumar um emprego, sobre dedicar mais tempo à família e a si mesmo. Feliz ano novo de "vou ser mais zen", de "vou beber menos", de "serei mais gentil" e, quiçá, de pular sete ondas, de dar flores a Iemanjá ou de comer Romã! Mas que seja feliz mesmo é por tirar as mesmas fotos durante todo o "novo ano", postar nas mesmas redes sociais, para mostrar para as mesmas pessoas, que comentarão, sempre, as mesmas coisas! Que seja novo pelas mesmas decepções, com relação àquilo do que disse que nunca mais criaria expectativas. Que seja novo pela mesma Lua no céu, pela mesma chuva de cometas em Agosto. Pelo novo lançamento que te fará trocar de celular ou de PC, como no ano passado! Por acordar cedo para ir a um lugar que só te traz problemas, segundo tu mesmo.
     Enfim, Feliz Ano Novo, simplesmente, por ter a chance de ser alguém diferente. Só por isso. É a única coisa que se comemora em um simples "00:00", que aparece no teu relógio 365 [ou 366] vezes por anos. Teoricamente tu tem muitas chances de ser diferente o tempo todo. Mas escolhe o último 31 como marco. E depois o próximo último 31. Depois o seguinte. Depois morre como quando escolheu aquele 31 de alguns anos atrás e, triste, não sabe por que está triste. Na verdade, não percebe, porque também tem a possibilidade de saber o porquê, mas não se move.
     Desejo-te, então, um simples "Feliz Ano". Nada de "novo". Essa parte tu decide acrescentar ou não.