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sábado, 31 de março de 2012

Máxima Nº 4

E o maior valor que podemos ter é não ter valor algum, pois somos obrigados a criar novas ideias...

sábado, 24 de março de 2012

Diálogo Nolampriano I

     Dúvidas são coisas interessantes. Proporcionam-te um pensar racional. De verdade. Até por que existem formas de pensar totalmente irracionais. Isso depende do ponto de vista e a quem venha interessar tais formas de pensar. Mas isso não é assunto para este momento.
     Nolampro era um rapaz muito curioso. Ele tinha muitas perguntas sobre tudo. E sabia que a maioria delas ficaria sem resposta ou explicação convincente. É como Wittgenstein dizia: "Sentimos que, mesmo depois de serem respondidas todas as questões científicas possíveis, os problemas da vida permanecem completamente intactos". E são justamente esses problemas os quais precisamos mais urgentemente de respostas. Ora, quem deseja saber como o universo surgiu? Muitos. Conhecimento inútil. Quem deseja saber se deuses existem? Muitos. Conhecimento inútil. Acreditar já basta. Fique feliz com sua auto-aceitação. Ela é que te convém, portanto é a única que te importa.
     Agora há uma pergunta que, se tivesse resposta, não seria um conhecimento tão inútil: para onde vamos? Bem, para muitos pode parecer mais uma pergunta sem resposta como outras mais. Na verdade, sem respostas não. Sem explicação convincente, talvez. Respostas para essa pergunta é só o que existem. E Nolampro não era fisgado por nenhuma delas. Não se sabe ao certo se era vergonha a razão para que nenhuma dessas respostas lhe satisfizesse. Ou se era de sua natureza não acreditar em alguma delas. Existe disso. Simplesmente não entra. Se bem que dizem que o sábio é aquele que sempre duvida. O idiota é o que tem certeza da maioria das coisas e o sensato reflete sobre. Porém poderíamos pensar de maneira diferente aqui, até por que o importante é pensarmos diferente e apresentar argumentos para que nossa hipótese não seja xula aos olhos da maioria.
     Pensemos. Bom mesmo seria ser sensato. Nem tolo nem sábio. Ser tolo deve ser horrível. Ser simplemeste massa de manipulação não é uma coisa muito boa. E ser sábio, no sentido que Aristóteles nos apresentou, deve ser uma perseguição sem fim e doída. Imagines! Duvidar de tudo! Não ter, sequer uma certeza tua! Sim, pois as certezas devem ser nossas, não as que os outros nos apresentam. Às vezes acontecem de outras pessoas terem as mesmas certezas que temos. Daí Nolampro pode ficar mais tranquilo. Se outras pessoas além dele pensaram igual, ou de forma análoga, a resposta não será tão idiota quanto as pessoas que sempre têm certeza de outra maneira e os que sempre duvidam pensam.
     Nolampro era mesmo uma mente brilhante. Faltava-lhe incentivo. Aliás, ter incentivo no mundo onde vivemos é meio difícil mesmo. Não é culpa de Nolampro viver nessa era. Mas ele pode pensar. E pensar o quanto quiser, sem preocupar-se com as respostas prontas dos outros. Caso ele esteja errado, verá e aceitará, como deve ser. Já que a vida não é feita de certeza plenas, um dia, aquilo no que mais acreditamos pode ser destruído. E será difícil de tirarmos aquilo da cabeça. É como se alguém tivesse morrido. Disseram-te que acabou, mas tua cabeça não aceita imediatamente. Mas Cronos cuida disso. Como costuma cuidar de tudo que não ajudou a construir.
     É esse excesso de racionalidade que nos leva ao fundo do poço. É por isso que a nossa sociedade é a mais fracassada que este mundo já suportou. Esta é uma certeza minha e de Nolampro. Se é uma certeza de nós dois, deve haver mais gente que pensa da mesma maneira, logo não estamos pensando uma besteira plena. Nossa sociedade tem, sim, esse quê de fracassada. Queremos sempre ser as vítimas das histórias, como se ser vítima ajudasse em algo. Na verdade, aprendemos e estamos condicionados a dar apoio às vítimas. De certo modo, isso é uma estratégia de sobrevivência que se instaurou no nosso inconsciente. Quem nunca pensou em ser vítima, ou pensou que era a vítima, pelo menos para se ver mais livre ou menos culpado de uma situação? Pois é. Eu sei disso. Nolampro sabe. Tu sabes. Assim adoramos nossas neuroses. Não queremos tratá-las. Quase que as cultivamos, em determinado momento. Tudo para continuarmos sendo vítimas. Mas vítimas de quê? De quem? De nós mesmos? Talvez. E se mais gente pensou que nós somos nossos próprios vilões, dou graças. Não pensei besteira.
     Nolampro tem medo de morrer. Medo louco. É quase uma doença. Karma maldito. Posso até dizer que é uma caso de tanatofobia. Ele realmente fica descontrolado com isso. Porquê? Por que ele tem certeza disso. Uma das poucas certezas que ele tem é a que vai morrer. Que será inútil um dia. Que vai deixar de produzir conhecimento. Que será esquecido como muitos já foram. Tantos que nem me lembro. Será um nada no meio de tudo. Não terá consciência disso no momento oportuno, mas tem consciência disso no momento errado.
     Ora, a nossa consciência é, por vezes, nossa melhor amiga. Por outras, o nosso maior pesadelo, a maior desgraça que poderia ter acontecido com uma espécie viva. É. Somos um bando de desgraçados. Ou não. Isso vai depender de quem quer ser vítima ou felizardo. Saber que morreremos é triste. Realmente triste. Nolampro sabe bem disso. E eu mais que ele. Mas há pessoas que têm consciência disso e são totalmente coniventes. Ora, não dá para lutar contra. Não dá para correr e dizer "nem me pega". Seria mais divertido assim. Mas, simplesmente, não dá. A aceitação é nossa única saída. E que sejam os deuses invenções humanas. Essas invenções nos ajudam muito a aceitar tudo isso. Há muitas coisas belas na vida. Uma delas é inventar uma mentira, apoiar-se nela e conseguir viver bem. Talvez estamos fazendo isso. Talvez não. Mas todo mundo tem um apoio como esse. Inexistente, porém eficaz.
     Não estou a discutir a existência de seres transcendentais. Estou a falar que mentiras podem ser coisas boas. Se elas te convirem, são realmente boas. Acredites no que quiseres. Se te confortar, é válido. É aqui que precisamos ser menos racionais. Na verdade, é aqui que devemos deixar de ser sábios ou tolos e começarmos a ser sensatos, pois é isso que nos diferencia dos outros animais: a capacidade de sermos sensatos. Não a capacidade de sermos racionais, de construir prédios gigantes ou de projetarmos bombas que podem destruir todo o planeta, mas sim a capacidade se sermos sensatos. Mas há quem pense que a diferença entre um homem e um macaco é o nível de negação. Somos os único que negamos a realidade e negamos o que somos. Talvez a mescla da sensatez e da negação definam a nossa espécie.
     Tudo continuará como é. Nada será mudado, pois. As certezas que temos continuarão as mesmas, mas as dúvidas só tendem a aumentar. E de todas as certezas que Nolampro queria ter, duas são mais importantes: que a vida fosse bela e que a morte fosse mansa.

terça-feira, 20 de março de 2012

Máxima Nº 3

Torna-te tão forte quanto pensas que precisas ser, mas verás, no final, que ainda assim foi pouco...

sábado, 17 de março de 2012

Sopro

Temos centenas de ideais a seguir.
Temos muito mesmo do que ainda rir.
Temos uma vida fútil pela frente,
Com controle algum da nossa pobre mente,
Sem saber ao certo onde queremos ir,
Mas loucos para saber onde parar.
Uma vida inteira para desistir,
Saber que nunca será errado errar,
Fazer o que a cabeça nossa mandar
Andar, chegar, entrar, te ver e te amar.
Calma, senão assim vai me faltar ar!

E quando paro para pensar um pouco,
Vem à mente um filme mudo, preto e branco,
Com personagens conhecidos, tampouco,
Prontos a pular da beira d'um barranco,
Tão profundo que mal vejo o chão no fim.
Tão escuro, porém vejo mesmo assim,
A solução, tão mórbida e desejada
Pelas almas, pelo mundo rejeitada,
Mas que é nossa única certeza, enfim.

Vivamos o tal maldito e triste filme
Sem esquecer, nunca, a hora de cantar.
Adeus ao belo sopro que conduziu-me
Até as luzes da sala eu apagar.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Sonnenaufgang für Sie!

     Essa postagem tem um dono. Na verdade, uma dona. Gabriela Lemos de Castro. Alguém que consegue ler o que posto aqui, por isso ela merece (claro que não é por isso, mas é que, de vez em quando, tento pôr um viés mais engraçado nas coisas. Dificilmente consigo)!
     Estava voltando de Canindé para Fortaleza, de madrugada, quando lembrei de parte de "Uma prostituta chamada Brasil" que Ela colocou no seu status: "E aqueles que levantam sempre cedo, não se desamimem! Vocês sempre vêem o nascer do Sol!".
     Apesar d'ela ser acostumada com os Nasceres de Sol das já desbravadas madrugadas, do Sol nascer para todos, neste dia, Ele nasceu pra Ela. Neste dia, Ele foi pra Ela. Das ist ein Sonnenaufgang für Sie!

domingo, 11 de março de 2012

Uma prostituta chamada Brasil


     Era século XV. Uma certo europeu decidiu ganhar a vida explorando os outros. De certo modo, deu certo. Foram mais de três séculos comendo do bom e do melhor, tudo às custas de uma bela donzela tropical. Donzela por que ele queria que assim fosse chamada, mas, na verdade, ela era uma guerreira. Foram tempos, realmente, difíceis para a bela dos trópicos. Assim os tempos continuam a ser, porém por outras razões. Pobre prostituta...
     Primeiro teve que aguentar os piores tipos entrando na sua casa, sem prévio aviso e sem sua permissão. Ainda assim foi receptiva com os maus sujeitos.
     Depois teve que mostrar aos maus-caráteres a casa toda: onde escondia ela toda sua riqueza, onde guardava ela toda a sua comida, toda a sua rotina e ainda dar satisfações para uns homens estranhos, que andavam com uma cruz na mão. Estes não entendiam por que todos naquela casa andavam nus. Não entender era o de menos. Eles adoravam aquilo tudo. O tal pecado da carne cometido com pura inocência. Seria pecado ser inocente? Parece-me que sim. E aos anfitriões isso se tornou uma certeza.
     A dona da casa, humilde, não tinha muito a oferecer aos Invasores do Além-Mar. Mostrou-lhes uma planta, muito bonita, cheia de espinhos, que, quando tinha sua casca cozida, soltava uma linda cor encarnada. Como os alienes foram lá para tirar lucro, fosse como fosse, decidiram levar o máximo de toras da tal planta que os fosse, ainda, possível.
     A pobre dama ainda teve seu filhos presos, espancados, explorados estuprados e, muitos, mortos. Tau atuara ali. Pensava ela quais perversidades teria feito para merecer tal castigo. Melhor mesmo era aceitar. Coisas de "deus" não se discute, diziam os navegantes da cruz vermelha.
     Como se já não fosse o bastante, os filhos que sobreviveram foram rejeitados, depois, pelos malditos. Houve certo alívio. Seus filhos eram novamente seus. Mas um outro tipo estranho, nunca antes visto por aquelas bandas, foi trazido pelos homens brancos. Eram uns homens de pele mais escura, de cabelos enrolados. A pobre dona mal saíra de um desespero já estava a entrar em outro. Aquele povo novo estava sofrendo até mais que seus próprios filhos. Impotente, a dona da casa teve que ficar calada. Por um bom tempo calada.
     Apesar da aparente folga dada pelos invasores a seus filhos, ela não foi tão grande. Muito menos convincente. Sofriam os de pele escura e sofriam os de pele vermelha. De vez em quando os de pele vermelha sofriam até mais, pois como não eram comumente trocados por uns cunhados de ouro eram exterminados à medida que os de pele clara invaginavam-se na casa da senhora.
     Explorada, estuprada e mal-tratada, a senhora tropical toma uma decisão: expulsar aquele povo que só trouxe maldição, até então, era a melhor solução.
     Estranho mesmo foi um deles querer ajudar a senhora. Aquilo lhe cheirava mal.
     Os homens de pele clara deixaram de mandar na casa da senhora, mas um homem de pele clara apenas continuou mandando em tudo. E ainda usava um ridículo apetrecho na cabeça. Parece que aquilo lhe dava mais poder. Idiotamente lhe dava mais poder.
     Depois desse pele clara ficar mandando em tudo, houve mais uns tempos de desespero. Um desespero até acalmante, apesar da situação sua e de seus filhos estar estagnada. Estagnada negativamente. Mas, pelo menos, estava estagnada.
     Vieram mais homens brancos. Agora todos falavam de um modo estranho. Uns diziam Vielen Danke, outros respondiam Grazie. Havia, ainda, quem falasse um Arigatou Gozaimasu! Estes até pareciam com os filhos da dona da casa, mas tinham uma pele amarelada. Besteira. Todos sofrem igualmente.
     Os homens de apetrecho ridículo na cabeça saíram de cena. Entraram uns que usavam uma faixa verde-amarela no peito. Que ainda lhes parecia conferir um poder. E continuava sendo um apetrecho ridículo.
     Com eles nada melhorou. Houve até um baixinho, cheio de si, que depois se matou, pensando em ser o salvador da pátria.
     Faixa vai e faixa vem, ela acabou nas mãos de uns homens que seguravam armas. Acho que foi por isso que enquanto eles tinham a faixa todo mundo tinham medo. De vem em quando apareciam uns filhos da pobre senhora contestando tudo, mas eram torturado ou mortos. Ou torturados e mortos.
     Porém, houve um tempo em que as coisas pareciam ter mudado. A faixa continuava a ser algo importante, o que não deixava a senhora, já velha, quieta. Estava ela certa. Nada mudou desde o tempo que aqueles homens de pele clara, que usavam uma cruz vermelha, chegaram. Desde o tempo em que aqueles homens usavam um troço de ouro na cabeça, nada mudou. E desde que aquela faixa verde-amarela foi objeto de disputa, tudo continua do mesmo jeito.
     Os filhos da senhora são penalizados, diariamente, por crimes que ninguém cometeu. São roubados por gente que deveria lhes proteger. São estuprados, diuturnamente, por gente igual a eles mesmos. São mortos por vítimas do mesmo sistema do qual todos fazem parte.
     Os filhos desta prostituta, cafetaniada por muitos anos e por muita gente, são filhos do azar. São filhos das 5:00 da manhã e vítimas do mais tardar. São filhos da mãe e vítimas do pai. São filhos da Pátria Amada e vítimas do Brasil, enfim.
     Por mais vítima que os filhos desta senhora sejam, há sempre o dia seguinte. O dia anterior lhes é renegado para que o posterior seja o dia, todo dia. Mesmo com todas as dificuldades, deve-se procurar melhorar cada dia mais. Deve-se trabalhar pensando em sim e naqueles que fazem parte da sua vida. Não desistir é mais fácil quando pensamos nas pessoas que amamos.
     E continuemos a luta. Descançar apenas quando a luta estiver ganha! E aqueles que levantam sempre cedo, não se desamimem! Vocês sempre vêem o nascer do Sol!