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sábado, 24 de março de 2012

Diálogo Nolampriano I

     Dúvidas são coisas interessantes. Proporcionam-te um pensar racional. De verdade. Até por que existem formas de pensar totalmente irracionais. Isso depende do ponto de vista e a quem venha interessar tais formas de pensar. Mas isso não é assunto para este momento.
     Nolampro era um rapaz muito curioso. Ele tinha muitas perguntas sobre tudo. E sabia que a maioria delas ficaria sem resposta ou explicação convincente. É como Wittgenstein dizia: "Sentimos que, mesmo depois de serem respondidas todas as questões científicas possíveis, os problemas da vida permanecem completamente intactos". E são justamente esses problemas os quais precisamos mais urgentemente de respostas. Ora, quem deseja saber como o universo surgiu? Muitos. Conhecimento inútil. Quem deseja saber se deuses existem? Muitos. Conhecimento inútil. Acreditar já basta. Fique feliz com sua auto-aceitação. Ela é que te convém, portanto é a única que te importa.
     Agora há uma pergunta que, se tivesse resposta, não seria um conhecimento tão inútil: para onde vamos? Bem, para muitos pode parecer mais uma pergunta sem resposta como outras mais. Na verdade, sem respostas não. Sem explicação convincente, talvez. Respostas para essa pergunta é só o que existem. E Nolampro não era fisgado por nenhuma delas. Não se sabe ao certo se era vergonha a razão para que nenhuma dessas respostas lhe satisfizesse. Ou se era de sua natureza não acreditar em alguma delas. Existe disso. Simplesmente não entra. Se bem que dizem que o sábio é aquele que sempre duvida. O idiota é o que tem certeza da maioria das coisas e o sensato reflete sobre. Porém poderíamos pensar de maneira diferente aqui, até por que o importante é pensarmos diferente e apresentar argumentos para que nossa hipótese não seja xula aos olhos da maioria.
     Pensemos. Bom mesmo seria ser sensato. Nem tolo nem sábio. Ser tolo deve ser horrível. Ser simplemeste massa de manipulação não é uma coisa muito boa. E ser sábio, no sentido que Aristóteles nos apresentou, deve ser uma perseguição sem fim e doída. Imagines! Duvidar de tudo! Não ter, sequer uma certeza tua! Sim, pois as certezas devem ser nossas, não as que os outros nos apresentam. Às vezes acontecem de outras pessoas terem as mesmas certezas que temos. Daí Nolampro pode ficar mais tranquilo. Se outras pessoas além dele pensaram igual, ou de forma análoga, a resposta não será tão idiota quanto as pessoas que sempre têm certeza de outra maneira e os que sempre duvidam pensam.
     Nolampro era mesmo uma mente brilhante. Faltava-lhe incentivo. Aliás, ter incentivo no mundo onde vivemos é meio difícil mesmo. Não é culpa de Nolampro viver nessa era. Mas ele pode pensar. E pensar o quanto quiser, sem preocupar-se com as respostas prontas dos outros. Caso ele esteja errado, verá e aceitará, como deve ser. Já que a vida não é feita de certeza plenas, um dia, aquilo no que mais acreditamos pode ser destruído. E será difícil de tirarmos aquilo da cabeça. É como se alguém tivesse morrido. Disseram-te que acabou, mas tua cabeça não aceita imediatamente. Mas Cronos cuida disso. Como costuma cuidar de tudo que não ajudou a construir.
     É esse excesso de racionalidade que nos leva ao fundo do poço. É por isso que a nossa sociedade é a mais fracassada que este mundo já suportou. Esta é uma certeza minha e de Nolampro. Se é uma certeza de nós dois, deve haver mais gente que pensa da mesma maneira, logo não estamos pensando uma besteira plena. Nossa sociedade tem, sim, esse quê de fracassada. Queremos sempre ser as vítimas das histórias, como se ser vítima ajudasse em algo. Na verdade, aprendemos e estamos condicionados a dar apoio às vítimas. De certo modo, isso é uma estratégia de sobrevivência que se instaurou no nosso inconsciente. Quem nunca pensou em ser vítima, ou pensou que era a vítima, pelo menos para se ver mais livre ou menos culpado de uma situação? Pois é. Eu sei disso. Nolampro sabe. Tu sabes. Assim adoramos nossas neuroses. Não queremos tratá-las. Quase que as cultivamos, em determinado momento. Tudo para continuarmos sendo vítimas. Mas vítimas de quê? De quem? De nós mesmos? Talvez. E se mais gente pensou que nós somos nossos próprios vilões, dou graças. Não pensei besteira.
     Nolampro tem medo de morrer. Medo louco. É quase uma doença. Karma maldito. Posso até dizer que é uma caso de tanatofobia. Ele realmente fica descontrolado com isso. Porquê? Por que ele tem certeza disso. Uma das poucas certezas que ele tem é a que vai morrer. Que será inútil um dia. Que vai deixar de produzir conhecimento. Que será esquecido como muitos já foram. Tantos que nem me lembro. Será um nada no meio de tudo. Não terá consciência disso no momento oportuno, mas tem consciência disso no momento errado.
     Ora, a nossa consciência é, por vezes, nossa melhor amiga. Por outras, o nosso maior pesadelo, a maior desgraça que poderia ter acontecido com uma espécie viva. É. Somos um bando de desgraçados. Ou não. Isso vai depender de quem quer ser vítima ou felizardo. Saber que morreremos é triste. Realmente triste. Nolampro sabe bem disso. E eu mais que ele. Mas há pessoas que têm consciência disso e são totalmente coniventes. Ora, não dá para lutar contra. Não dá para correr e dizer "nem me pega". Seria mais divertido assim. Mas, simplesmente, não dá. A aceitação é nossa única saída. E que sejam os deuses invenções humanas. Essas invenções nos ajudam muito a aceitar tudo isso. Há muitas coisas belas na vida. Uma delas é inventar uma mentira, apoiar-se nela e conseguir viver bem. Talvez estamos fazendo isso. Talvez não. Mas todo mundo tem um apoio como esse. Inexistente, porém eficaz.
     Não estou a discutir a existência de seres transcendentais. Estou a falar que mentiras podem ser coisas boas. Se elas te convirem, são realmente boas. Acredites no que quiseres. Se te confortar, é válido. É aqui que precisamos ser menos racionais. Na verdade, é aqui que devemos deixar de ser sábios ou tolos e começarmos a ser sensatos, pois é isso que nos diferencia dos outros animais: a capacidade de sermos sensatos. Não a capacidade de sermos racionais, de construir prédios gigantes ou de projetarmos bombas que podem destruir todo o planeta, mas sim a capacidade se sermos sensatos. Mas há quem pense que a diferença entre um homem e um macaco é o nível de negação. Somos os único que negamos a realidade e negamos o que somos. Talvez a mescla da sensatez e da negação definam a nossa espécie.
     Tudo continuará como é. Nada será mudado, pois. As certezas que temos continuarão as mesmas, mas as dúvidas só tendem a aumentar. E de todas as certezas que Nolampro queria ter, duas são mais importantes: que a vida fosse bela e que a morte fosse mansa.

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