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domingo, 11 de março de 2012

Uma prostituta chamada Brasil


     Era século XV. Uma certo europeu decidiu ganhar a vida explorando os outros. De certo modo, deu certo. Foram mais de três séculos comendo do bom e do melhor, tudo às custas de uma bela donzela tropical. Donzela por que ele queria que assim fosse chamada, mas, na verdade, ela era uma guerreira. Foram tempos, realmente, difíceis para a bela dos trópicos. Assim os tempos continuam a ser, porém por outras razões. Pobre prostituta...
     Primeiro teve que aguentar os piores tipos entrando na sua casa, sem prévio aviso e sem sua permissão. Ainda assim foi receptiva com os maus sujeitos.
     Depois teve que mostrar aos maus-caráteres a casa toda: onde escondia ela toda sua riqueza, onde guardava ela toda a sua comida, toda a sua rotina e ainda dar satisfações para uns homens estranhos, que andavam com uma cruz na mão. Estes não entendiam por que todos naquela casa andavam nus. Não entender era o de menos. Eles adoravam aquilo tudo. O tal pecado da carne cometido com pura inocência. Seria pecado ser inocente? Parece-me que sim. E aos anfitriões isso se tornou uma certeza.
     A dona da casa, humilde, não tinha muito a oferecer aos Invasores do Além-Mar. Mostrou-lhes uma planta, muito bonita, cheia de espinhos, que, quando tinha sua casca cozida, soltava uma linda cor encarnada. Como os alienes foram lá para tirar lucro, fosse como fosse, decidiram levar o máximo de toras da tal planta que os fosse, ainda, possível.
     A pobre dama ainda teve seu filhos presos, espancados, explorados estuprados e, muitos, mortos. Tau atuara ali. Pensava ela quais perversidades teria feito para merecer tal castigo. Melhor mesmo era aceitar. Coisas de "deus" não se discute, diziam os navegantes da cruz vermelha.
     Como se já não fosse o bastante, os filhos que sobreviveram foram rejeitados, depois, pelos malditos. Houve certo alívio. Seus filhos eram novamente seus. Mas um outro tipo estranho, nunca antes visto por aquelas bandas, foi trazido pelos homens brancos. Eram uns homens de pele mais escura, de cabelos enrolados. A pobre dona mal saíra de um desespero já estava a entrar em outro. Aquele povo novo estava sofrendo até mais que seus próprios filhos. Impotente, a dona da casa teve que ficar calada. Por um bom tempo calada.
     Apesar da aparente folga dada pelos invasores a seus filhos, ela não foi tão grande. Muito menos convincente. Sofriam os de pele escura e sofriam os de pele vermelha. De vez em quando os de pele vermelha sofriam até mais, pois como não eram comumente trocados por uns cunhados de ouro eram exterminados à medida que os de pele clara invaginavam-se na casa da senhora.
     Explorada, estuprada e mal-tratada, a senhora tropical toma uma decisão: expulsar aquele povo que só trouxe maldição, até então, era a melhor solução.
     Estranho mesmo foi um deles querer ajudar a senhora. Aquilo lhe cheirava mal.
     Os homens de pele clara deixaram de mandar na casa da senhora, mas um homem de pele clara apenas continuou mandando em tudo. E ainda usava um ridículo apetrecho na cabeça. Parece que aquilo lhe dava mais poder. Idiotamente lhe dava mais poder.
     Depois desse pele clara ficar mandando em tudo, houve mais uns tempos de desespero. Um desespero até acalmante, apesar da situação sua e de seus filhos estar estagnada. Estagnada negativamente. Mas, pelo menos, estava estagnada.
     Vieram mais homens brancos. Agora todos falavam de um modo estranho. Uns diziam Vielen Danke, outros respondiam Grazie. Havia, ainda, quem falasse um Arigatou Gozaimasu! Estes até pareciam com os filhos da dona da casa, mas tinham uma pele amarelada. Besteira. Todos sofrem igualmente.
     Os homens de apetrecho ridículo na cabeça saíram de cena. Entraram uns que usavam uma faixa verde-amarela no peito. Que ainda lhes parecia conferir um poder. E continuava sendo um apetrecho ridículo.
     Com eles nada melhorou. Houve até um baixinho, cheio de si, que depois se matou, pensando em ser o salvador da pátria.
     Faixa vai e faixa vem, ela acabou nas mãos de uns homens que seguravam armas. Acho que foi por isso que enquanto eles tinham a faixa todo mundo tinham medo. De vem em quando apareciam uns filhos da pobre senhora contestando tudo, mas eram torturado ou mortos. Ou torturados e mortos.
     Porém, houve um tempo em que as coisas pareciam ter mudado. A faixa continuava a ser algo importante, o que não deixava a senhora, já velha, quieta. Estava ela certa. Nada mudou desde o tempo que aqueles homens de pele clara, que usavam uma cruz vermelha, chegaram. Desde o tempo em que aqueles homens usavam um troço de ouro na cabeça, nada mudou. E desde que aquela faixa verde-amarela foi objeto de disputa, tudo continua do mesmo jeito.
     Os filhos da senhora são penalizados, diariamente, por crimes que ninguém cometeu. São roubados por gente que deveria lhes proteger. São estuprados, diuturnamente, por gente igual a eles mesmos. São mortos por vítimas do mesmo sistema do qual todos fazem parte.
     Os filhos desta prostituta, cafetaniada por muitos anos e por muita gente, são filhos do azar. São filhos das 5:00 da manhã e vítimas do mais tardar. São filhos da mãe e vítimas do pai. São filhos da Pátria Amada e vítimas do Brasil, enfim.
     Por mais vítima que os filhos desta senhora sejam, há sempre o dia seguinte. O dia anterior lhes é renegado para que o posterior seja o dia, todo dia. Mesmo com todas as dificuldades, deve-se procurar melhorar cada dia mais. Deve-se trabalhar pensando em sim e naqueles que fazem parte da sua vida. Não desistir é mais fácil quando pensamos nas pessoas que amamos.
     E continuemos a luta. Descançar apenas quando a luta estiver ganha! E aqueles que levantam sempre cedo, não se desamimem! Vocês sempre vêem o nascer do Sol!

2 comentários:

  1. Eu tinha que comentar, para que os incrédulos vissem, que tem gente que consegue ler todo.
    Eque gosta do que leu.
    Aguardando novos textos.
    Beijo

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  2. Esses incrédulos, hein Gabriela?! Também os odeio... oauhaouah
    Mas de tu nunca duvidei... Confio em você... :)

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