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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A Partida

     Sabes como é iniciar um jogo de xadrez, por diversão, já de sobreaviso de que vais perder? Provavelmente, há algo costumeira e popularmente nomeado "motivação" aí: vencer alguém que quase nunca perde [ou alguém de quem antes tu nunca havias vencido] aumenta o valor reforçador de "vencer", aumentando, também a frequência do "jogar", que se resume em "tentar vencer" mais vezes. Pois é. Não vou falar disso. Vou falar de um jogo importante. Em que também não há chance de vitória.
     Há um bom tempo esperava esta partida. Mas como uma partida normal: vou jogar dando meu melhor e esperando o melhor de meu oponente. Nada mais sensato e cordial que esperar um embate à altura. Nada mais normal que preparar-me para o jogo, afinal, não conhecia o adversário. Ainda. E aqui está o perigo: não conhecer o adversário. Porém, isso é algo que foge de nosso controle. Nem sempre conhecemos aqueles com quem nos relacionamos. Nem sempre conhecemos as contingências com as quais interagir-nos-emos. Na maioria das vezes, até, aprendemos a lidar com elas apenas no contato. Regras podem não ser muito claras, visto que as contingências são desconhecidas da maioria, pelo menos inicialmente. E, quando são conhecidas, pessoas lidaram com elas a partir de seu próprio repertório, que não é meu, nem seu, nem de outros. É dela.
     Enfim, encarei o adversário. E deparo-me com a situação de que a partida está ganha. Que pena! Em favor dele. Um minuto de silêncio. Que chega a ser infinito. Quase eterno, com silêncio antes dele e depois dele. Só houve, sempre, silêncio. Algo a mais não existia. Era ilusão. Eram histórias bonitas que te contavam. Eram descrições de uma realidade nada pragmática. Eram descrições de um mundo em que tu não ouvias a história, na verdade. Tu fazias parte dela. Tu eras personagem. E tua história seria contada a outros, que também acreditariam ser aquela sua própria história. E os personagens só aumentam. O conto de fadas só ganha mais vida, parecendo, a cada momento, mais real.
     Então, meu jogo, para o qual achava que havia me preparado tão bem, estava perdido. Ou ganho pelo outro, se preferir assim, caro leitor. O copo nunca está meio vazio para quem tem sede. Já sei que a probabilidade de eu emitir respostas de tentativa serão baixas, assim como as chances de eu vencer. Na verdade, não quero sair de onde estou, agora. Quero ficar aqui, quieto. Desamparo aprendido. Não sei o que fazer, mesmo tendo vontade de que nada disso tivesse acontecido. Ainda assim fico quieto. E não tenho vontade de me expor àquelas contingências de jogo. Se melhorar, quando entrar nelas novamente, vou querer fazer nada, de novo. E isso não seria bom, acho. Esquivar-me-ei. Aqui e ali. Amanhã e depois. E se pudesse mudar o que já aconteceu, mudaria também. E se puder prever, com precisão, o amanhã, farei o possível para que não ocorra lá. Não quero. A fuga foi complicada.
     Continua. Nada tem fim em si.

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